Era um momento conturbado na Civilizada Europa no princípio do século XX. Potências imperialistas buscavam a hegemonia econômica e política, resultando no início da barbárie I Guerra Mundial que duraria um período de 4 anos (1914-1918). O Brasil era governado por corruptas oligarquias agrárias do café. No estado do Ceará em 1912 O governador Nogueira Accioly era deposto do cargo através de uma revolta popular. Em 1914, coronéis e fiéis seguidores do caririense Padre Cícero forçaram a renúncia do então governador do estado, Franco Rabelo.
A época era marcada pela ida dos filhos das classes dominantes brasileiras e cearenses a Europa, em busca da referência cultural do estudo, da música, da pintura, das idéias e dos costumes, obviamente do velho mundo eles traziam os mais refinados hábitos e práticas. Foi assim que através dos pés destes abastados jovens que chegou ao Brasil, o Foot-Ball Association, o qual foi nascido e criado na Inglaterra por volta da segunda metade do século XIX.
O estudante das destacadas escolas inglesas, Charles Miller em seu retorno ao Brasil da Inglaterra trouxe em sua bagagem em 1894, duas bolas de couro, calções, camisas e chuteiras e buscou estimular aquela civilizada prática de educação física.
No estado do Ceará o foot-ball teve seus primeiro dados por marinheiros e funcionários de empresas inglesas instaladas no estado em 1903. Os primeiros jogos, não eram oficiais, eram apenas partidas improvisadas no terceiro plano do Passeio Público (Praça dos Mártires), em uma área em frente a um gasômetro hoje ocupada pela 10ª região militar. O foot-ball na época era um gozo para as classes elitizadas da sociedade da Capital do estado.
O nosso Charles Miller foi José Silvério, jovem estudante na Suíça que em 1904 trouxe a primeira bola oficial para o nosso estado. Estimulou a sociedade alencarina a adotar o futebol como esporte favorito. Em uma tarde ensolarada, um time formado por rapazes locais com a presença de José Silvério (Que viria a ser professor do Liceu) e outro de ingleses de um navio britânico ancorado na Capital, disputaram uma partida no mesmo terceiro plano do Passeio Público. A partida terminou 2x0 para os ingleses, mas os rapazes cearenses não decepcionaram, alguns jogavam o tal foot-ball pela primeira vez.
No Ceará, como no resto do Brasil, o futebol teve todo um caráter racista e de classe. Uma atividade extremamente elitista, praticada apenas por brancos. As primeiras ligas, associações eram fechadas às quais, tinham apenas acesso os grupos sociais restritos, compostos por famílias brancas das classes dominante e média, não se admitiam pobres, negros e mestiços.
Logo o futebol tornou-se em pouco tempo paixão popular, apesar de todo o elitismo, praticado por pobres, negros, mulatos, caboclos. Tal população assistia aos jogos das elites por curiosidade e vendo as emoções que as partidas provocavam. Passaram a disputar as partidas nas próprias fábricas, várzeas e subúrbios, as famosas peladas. Como tudo era muito caro a estas classes, os campos eram capinzais e terrenos baldios, além da bola ser de borracha ou de pano, as traves seriam dois pedaços de madeira, pedras ou quengas de coco. Era a maior congregação social da época, os amigos reuniam-se, jogavam e tomavam a cachaça, bebida fortemente condenada pelas classes proprietárias.
Não demorou muito e surgiram inúmeras equipes entre as quais, destacam-se: English Team, Stella Foot-Ball, Rio Negro Foot-Ball Club, Hesperia Atlético Clube, Maranguape Foot-Ball Club, Fortaleza Sporting Club, American Footbal Club e Rio Branco Foot-Ball Club (O futuro Poderoso Ceará Sporting Club). Com a aglomeração de equipes, resolve-se criar a liga metropolitana em 1915, que tinha como principais times, os bons moços do Ceará, Maranguape, Rio Negro e Stella. O Local mais apropriado para as partida era o campo do Prado, um amplo terreno da empresa Boris Frères, tal área onde se localiza o CEFET e o estádio Presidente Vargas.
ENTÃO SURGE O GLORIOSO ALVINEGROTerça-feira, 2 de junho de 1914, Luís Esteves Júnior e Pedro Freire, dois bons moços da sociedade caminhavam à conversar diversos assuntos, destacadamente política internacional. Depois de muitas conversas, Pedro passou a chutar uma pedrinha no meio do caminho, fato ainda sem confirmação, onde originou uma conversa sobre o foot-ball, surgindo a idéia de formar um time deles próprios.
A proposta ganhou densidade quando a dupla encontrou colegas no refinado café Art-Noveau (major Facundo com Guilherme Rocha). No mesmo dia, os rapazes se reuniram na residência de Luís Esteves, Rua do Trilho nº 6 (atual Tristão Gonçalves, numa casa que acabou demolida em 2004 para a construção do Metrofor). Eram 24 pessoas, às quais escolheram como nome do team, Rio Branco Foot-Ball Club. Com camisas de cor Lilás e calções brancos, semelhantes atualmente ao da Fiorentina de Itália, que foi fundado em 1926 e cujas vestimentas, portanto, não influenciaram as cores do time cearense, como de forma de errônea o site oficial divulga. Gilberto Gurgel, comerciante da Praça do Ferreira, foi escolhido o primeiro presidente. Gilberto promoveu uma coleta entre os associados, para arrecadação de fundos para a compra de uma bola oficial nº 5. Obtiveram 22 mil réis, uma quantia que mostrava uma boa condição social dos fundadores do clube. As despesas e o aluguel da sede eram rateados entre os sócios e atletas, os quais nas partidas se confraternização com comes e bebes.
Exato um ano depois, em assembléia optou-se em alterar o nome da equipe para Ceará Sporting Club, e em virtude das dificuldades de se obter ternos da cor lilás(que desbotavam, facilmente), mudou-se as cores do uniforme, o qual passou a ter camisas com listras verticais em preto e branco e calções brancos(depois os calções passaram a ter a cor preta). O Sobrinho de Luis Esteves, Geraldo Quevedo Esteves confirmou toda a história de fundação do Glorioso Vozão com o tio, menos o episódio da “pedrinha”, talvez um fato folclórico. O Certo, contudo, é que com aqueles meninos nascia um time detinado a ser uma lenda, amor maior de milhares de pessoas e uma das maiores glórias do nordeste brasileiro.
Não se sabe bem o porquê da escolha do nome Rio Branco. Provavelmente uma homenagem ao Famoso Diplomata brasileiro Barão do Rio Branco falecido em 1912. O nome, contudo, reflete perfeitamente a dureza, as dificuldades da época e as esperanças de um futuro melhor; queria-se um Rio Branco de águas limpas, transparentes para se banhar, aproveitar o vento e o sol. O nome Ceará relaciona-se a um aumento do regionalismo, uma conseqüente desilusão do Belle Époque, advinda com a I Guerra Mundial. As cores alvinegras evidenciavam igualmente ao momento: O branco da paz, a que homens almejavam naquele instante de guerra, mais ainda; quanto ao preto, há uma significância toda especial: sabe-se que tal cor, por séculos associada ao luto e a morte, foi transformada pela nobreza absolutista da idade moderna e sobretudo pelas elites num tom solene de elegância, gala, luxo, força, poderio, aristocracia. Assim temos no Ceará Sporting Club o poder, a nobreza e a ternura reunidos numa mística fenomenal. A fórmula da vitória e do sucesso, sem dúvidas.